Processos e Equipamentos Industriais é uma das cadeiras do curso de Administração de Empresas. Consiste em aulas práticas que exigem a visita dos alunos à determinada fábrica durante um semestre. Nossa equipe escolheu a Carlsberg, uma cervejaria dinamarquesa, cuja fábrica foi instalada no município de Camaçari no início da década de 70.
Sem dúvida, a gênese da minha paixão pela família da cevada data de 1973, durante os seis meses de visita diária à fábrica da Carlsberg. E permanece inabalável até hoje.
Aprendi, por exemplo, que a regra básica é não beber chopp com quem acha amargo. Quando você perceber que tomar chopp se converte em auto-sacrifício para alguém, pode afirmar, sem erro, que esse rapaz não é do ramo. Tem que ser condenado ao desprezo eterno. Hoje, identifico, com facilidade, o indivíduo que não tem intimidade com o chopp. Ele se agarra à tulipa com a força de quem está sob o risco de um tsunami, não sabendo que está transferindo o calor da mão para o líquido. A tulipa é como um seio de uma mulher, pede leveza no toque.
O chopp, de tão nobre, não admite vulgaridades. É chamado carinhosamente de chopinho. Já sua prima carnal se permite a relacionamentos extravagantes, como por exemplo: Manda uma cu de foca, cara! Ou, então: Chefia, uma estupidamente gelada! E mais: Meu rei, manda uma canela de pedreiro! Esta última é uma analogia ao pó branco grudado na perna do pedreiro e a cerveja quase encoberta pelo gelo.
A vida útil do chopp é de cinco dias. Quanto mais novo, melhor é o sabor. A temperatura ideal deve variar de cinco a seis graus. Que me perdoem os incautos bebedores, mas tomar chopp estupidamente gelado é uma heresia. Prejudica a formação da espuma e adormece a mucosa da língua, comprometendo o paladar e, por conseqüência, o sabor.
Os copos devem ser bem lavados, preferencialmente com detergente neutro. O Chopp contém um ingrediente chamado lúpulo, encarregado de formar a espuma que é inimiga fidagal da gordura. Essa é a razão pela qual o chopp do mulherio quase sempre está sem espuma, devendo-se a isso a gordura do batom. Beber chopp sem colarinho é um crime inafiançável. Dois dedos de espuma são o ideal para reter o aroma e evitar a liberação do gás carbônico.
Provavelmente, será conspurcada a minha tênue esperança de entrar para o reino dos céus, mas tomar chopp é um ato litúrgico.
Já decidi. Quando eu morrer, na minha lápide deverá conter a seguinte inscrição:
“Aqui jazem os restos mortais de um amante do chopp
que elegeu uma das mãos só para acariciar a tulipa.
A outra, sabe Deus!”