Para Eneas Barros
Tenho um amigo-irmão em Teresina com quem sempre converso sobre a importância do bar na sociedade contemporânea e o valor de um safári etílico pelos botecos da vida. De vez em quando, ele menciona o seu bar preferido, para onde se dirige quando quer criar e desenvolver personagens dos seus livros. Numa dessas conversas, ele se lembrou de um cartunista de Teresina, seu amigo, cuja paixão pela arte de bebericar, de tão desmedida, o leva a dizer: o mundo inteiro não vale o meu bar. Está certo. Se o conhecesse, lhe concederia o título de Oráculo da Boemia.
A capacidade de acolhimento de um bar é uterina, incondicional. É lá onde travamos as batalhas mais sangrentas conosco mesmos. São os bares que guardam, a sete chaves, o que temos de mais sombrio e labiríntico, sejam fraquezas, expectativas, amores, rancores, vitórias, derrotas, e tudo mais que habita nossas cabeças entre um gole e outro.
Mas na mesa de bar acontecem também cenas insólitas. Por exemplo, um desconhecido me abordou, perguntando: E nosso Bahia, continua na primeira divisão, não é? Minha resposta: Fez por merecer. Aceita um chope? Ele: Vou aceitar, sim. E sentou-se. Minutos depois, perguntou: Quer dar um tapa? É bom pra asma. Respondi: Não, obrigado! Retirou-se sem saber que não sou torcedor do Bahia, tampouco sou asmático.
Costumo apelidar de “escritório” os bares que freqüento, e não passam de cinco: Escritório 1, Escritório 2, Escritório 3, e por aí vai. Se algum bisbilhoteiro se interessa pelo critério da numeração crescente dos meus escritórios, eu cito como fator determinante o da equivalência entre a importância etílico-gastronômica e o afeto que dedico a eles.
Há momentos em que o bar é mais importante do que a namorada. Anamélia, a minha, sabiamente entende isso. Se você desaparece por quinze dias, por exemplo, no seu retorno lá está ele, imponente, livre de ciúmes, disponível para um abraço. Nessa hora, o diálogo frente a frente com a tulipa do chopp é indivisível, absoluto, total. Quase imóvel.
Antes mesmo de me condenarem a arder no fogo do inferno, peço a indulgência das mulheres ciumentas e possessivas. Que levem na devida conta a grandeza dos bares: são amados, mas não rivais!